Alta Idade Média: Império Bizantino e
Islão
1.
Introdução
Após a queda do último imperador romano do ocidente, em
476, deposto pelos bárbaros germânicos, o Império do Ocidente deixou de
existir. Não obstante, seu congênere oriental lhe sobreviveria por quase um
milênio.
A sobrevivência do Império Romano do
Oriente, ou império Bizantino (de
Bizâncio, antigo nome de Constantinopla), pode ser explicada pela manutenção
das as do comércio internacional nas mãos dos bizantinos e ela preservação de
Constantinopla como um dos terminais das rotas procedentes da Ásia. Apesar da
expansão islâmica, responsável por uma considerável redução de eu território, o
Império Bizantino logrou manter sua importância econômica, O comércio
propiciava-lhe as rendas necessárias à manutenção de um exército ainda
expressivo.
Após as invasões bárbaras, o Ocidente latino foi
parcialmente germanizado, ao passo que o Oriente permaneceu apegado à cultura
grega e ao orientalismo.
2. O
governo de Justiniano: o apogeu do Império Bizantino
O Império Bizantino atingiu o auge de seu esplendor com
Justiniano (527-565). Ambicioso, aliado à camada mercantil, empreendeu a
reconquista do antigo Império Romano do Ocidente. Para tanto, organizou um
grande exército e uma poderosa frota.
As conquistas de Justiniano objetivavam preservar as bases
econômicas do Império do Oriente e restaurar a unidade do Império Romano. As
relações comerciais entre as cidades do contorno mediterrâneo foram ativadas a
partir das vitórias do general bizantino Belisário, que dominou o Egito e sua
enorme produção de trigo. O avanço militar prosseguiu sob a chefia de Belisário
e de outro general competente, Narsés, que destruíram o Reino dos Vândalos
norte da Africa) e o Reino dos Ostrogodos (Itália) e ocuparam seus territórios.
O limite máximo da reconquista bizantina foi o sul da península Ibérica, tomado
aos visigodos.
Mas a manutenção de tão formidável império exigia grandes sacrifícios. Por outro lado, as vitórias no Ocidente foram comprometidas por algumas derrotas ante os persas, nas fronteiras orientais. Conseqüentemente, após a morte de Justiniano, o Império Bizantino viu-se forçado a abandonar gradualmente as regiões conquistadas, perdendo inclusive territórios que lhe eram próprios, seja no Oriente Próximo (para os árabes), seja na península Balcânica (para os eslavos).
Mas a manutenção de tão formidável império exigia grandes sacrifícios. Por outro lado, as vitórias no Ocidente foram comprometidas por algumas derrotas ante os persas, nas fronteiras orientais. Conseqüentemente, após a morte de Justiniano, o Império Bizantino viu-se forçado a abandonar gradualmente as regiões conquistadas, perdendo inclusive territórios que lhe eram próprios, seja no Oriente Próximo (para os árabes), seja na península Balcânica (para os eslavos).
3. O
Código de Justiniano
Justiniano preocupou-se com a codificação do Direito
Romano. Nasceu assim o Corpus Juris
Civilis, elaborado por uma comissão de juristas nomeados por
Justiniano. Nesse monumento jurídico, toda a legislação romana foi revista,
corrigidas as omissões e suprimidas as contradições. O jurista Triboniano
dirigiu os trabalhos, que resultaram na edição de um Corpo de Direito, dividido
em quatro partes: Digesto,
Institutas, Novelas e Pandeclas. Essa obra sobreviveu ao Império
Bizantino, servindo de base para quase todas as legislações modernas.
4. A
Revolta Nika
No reinado de Justiniano ocorreu uma importante revolta
popular, como reflexo da exploração econômica e opressão a que eram submetidas
as camadas inferiores. O pretexto para a insurreição surgiu no Hipódromo de
Constantinopla, onde os bizantinos acompanhavam com apaixonado interesse as
disputas entre as equipes dos Verdes e Azuis.
A proclamação de uma vitória duvidosa, em uma das
corridas, desencadeou um tumulto que logo se transformou em rebelião. Os
insurretos marcharam contra o palácio imperial aos gritos de Nike! (“Vitória!”);
daí o nome dado à sedição. O movimento foi esmagado graças à energia da
imperatriz Teodora.
5. A
religião no Império Bizantino
No Império Romano do Oriente, a autoridade temporal (isto
é, política), exercida pelo imperador, sobrepunha-se à autoridade espiritual
(isto é, religiosa) do patriarca de Constantinopla, o que resultava na
submissão da Igreja ao Estado (cesaropapismo).
O Império Bizantino teve uma efervescente vida religiosa,
em que as disputas doutrinárias eventualmente chegavam ao extremo da guerra
civil. Justiniano defendeu de forma irredutível a ortodoxia cristã, combatendo
com firmeza as duas heresias que lhe foram contemporâneas: no Ocidente, o Arianismo; no Oriente,
o Monofisismo (este último apoiado pela própria imperatriz Teodora, esposa de
Justiniano). Ambas heresias negavam a existência em Cristo de uma dupla
natureza — divina e humana.
A imperatriz Teodora, que exerceu grande influência no governo de seu esposo, Justiniano.
No século VIII, irrompeu em Constantinopla o movimento
iconoclasta. Seu inspirador foi o imperador Leão III, que proibiu o culto das
imagens e ordenou que elas fossem destruídas. Os defensores do culto sofreram
violentas perseguições, mas as imagens acabaram sendo reentronizadas nas
igrejas.
Com o passar do tempo, tomou-se cada vez mais difícil ao
papa (bispo de Roma) impor sua autoridade sobre a Igreja do Oriente. A crise
atingiu o clímax em 1054, quando o patriarca de Constantinopla, com o apoio do
imperador bizantino, recusou-se oficialmente a continuar acatando a autoridade
papal. Essa ruptura, conhecida como Cisma do Oriente, deu origem à Igreja
Católica Ortodoxa, cuja doutrina é basicamente idêntica à da Igreja Católica
Romana, embora haja diferenças no ritual e na organização eclesiástica.
6. A
crise do Império Bizantino
Os sucessores de Justiniano mostraram-se incapazes de
sustentar sua herança. Além das dissensões religiosas, os conflitos políticos e
os golpes palacianos dilaceravam o Império. As conquistas ocidentais foram aos
poucos abandonadas. A corrupção administrativa grassava; o caos econômico
ameaçava instalar-se.
Heráclio (610-641) foi o último grande imperador
bizantino. Quando ascendeu ao poder, os persas haviam invadido a Síria,
capturado Jerusalém e conquistado o Egito, comprometendo as rotas comerciais e
as fontes de suprimentos dos bizantinos. Heráclio assumiu a ofensiva e retomou
as áreas perdidas, empurrando o inimigo para trás do rio Eufrates.
Depois de Heráclio, o Império Bizantino iria viver uma
longa agonia. No século VII, a expansão árabe sacudiu o Oriente Médio, com o
pavilhão do Crescente submetendo as regiões compreendidas desde a Pérsia até ao
Estreito de Gibraltar. A Palestina, a Síria e a África do Norte foram
definitivamente perdidas. Enquanto isso, as migrações eslavas provocavam
turbulências nos Bálcãs e os búlgaros estabeleceram-se ao sul do Danúbio.
Os séculos seguintes assistiram à luta de Constantinopla
para sobreviver. Búlgaros, árabes, turcos seldjúcidas e mongóis encarniçaram-se
contra o Império em crise, mas’ cuja capital ainda conservava uma incrível
vitalidade econômica. Em 1204, os cavaleiros da Quarta Cruzada saquearam a
cidade e fundaram um efêmero Império Latino do Oriente. Mas o Império Bizantino
ainda conseguiu superar mais essa vicissitude, embora cada vez mais debilitado.
O fim veio em 1453, quando os turcos otomanos, dirigidos
pelo sultão Maomé II, finalmente conquistaram a legendária Bizâncio. O último
imperador, Constantino XII, pereceu enfrentando o inimigo.
7.
Conclusão
A sobrevivência do Império Bizantino por todo o período
medieval manteve de pé o baluarte cristão no Oriente, a despeito dos ataques de
persas, muçulmanos e eslavos.
A atividade dos barcos e mercadores bizantinos garantiu
para Constantinopla um esplendor invejável, com um fabuloso tesouro artístico
constituído de templos, pinturas, esculturas e mosaicos. Foi ainda o Império
Bizantino que preservou grande parte do acervo cultural greco-romano. Destarte,
o Império Romano do Oriente constitui a grande ponte entre a Antigüidade e os
Tempos Modernos.
Interior da Catedral de Santa Sofia, em Constantinopla.
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