O caso do MIM e do EU; do TU e do TE
É
comum as pessoas dizerem: Este
livro é para mim ler. Qual o equívoco? O certo é para eu ler. Simplesmente não
observamos que o mim torna-se o sujeito de ler. Pelas leis da gramática, mim e
te não funcionam como sujeitos da ação. Logo: Para eu fazer, para eu ler, para
eu escrever. Mim e te não praticam ação. Logo, mim não passa no vestibular; mim
não namora, mim não vai a jogo de futebol. Eu, sim, passo no vestibular. Estudo
para eu passar no vestibular. Na verdade, isso parece língua de índio: Mim
Jane, tim Tarzã...
Os
alunos irão reclamar: Que
diferença faz, todo o mundo entende quando a gente diz pra mim fazer? Ah, sim,
vocês acham mesmo isso? Então vejamos:
Imaginem que um colega faça o seguinte convite:
Vou-te convidar para tu comeres lá em casa.
Tu é sujeito de comer. Logo, praticará a ação de degustar
o alimento cozido. Trata-se de pronome reto, digno feitor de ações. Trocando
para o pronome oblíquo:
Vou-te convidar para te comer lá em casa.
Mudou alguma coisa? Penso que sim. Agora o convidado, de
agente da ação de comer, passa a ser o cardápio. Moral da história: Quando
convidarem vocês para comer, perguntem se é com o reto ou com o oblíquo.
Gentilmente, vai-se primeiro com o reto e, depois, mete-se o oblíquo.
O
acento é grave
O uso do sinal indicativo de crase é um suplício
A crase é uma desgraça! Abaixo a crase! Serve pra quê?
Ouvimos sempre essas reclamações dos alunos, porque ela incomoda mais que o
elefante daquela musiquinha. Uma crase incomoda muita gente, duas crases...
Crase não é acento, é convenção, logo não marca a tonicidade.
Os usuários (não do transporte coletivo, mas da língua) enfiam o acento grave
conforme a eufonia. É forte, vai crase. Doce e grave engano.
O inusitado acontece por obra e graça de uma língua na
qual a preposição e o artigo são idênticos: a. Daí à tragédia (com crase) é um
passo. Os castelhanos perceberam o caos e se anteciparam: o artigo é la; e a
preposição, a. Assim: Vamos a la casa de Maria é um enunciado claro, limpo,
como a casa da própria.
Na outra ibérica língua, a de Fernando Pessoa, teríamos:
Vamos aa casa de Maria. Quem daria crédito a esta grafia aa? Diriam tratar-se
de coisa tipicamente lusitana. Bobagem reservada às (com crase) piadas.
De qualquer modo, experimente, heróico leitor dessa
coluna, a pronúncia desses dois aas. Que tal? Não sentiu, por acaso, um
bloqueio pulmonar? Logo, frisemos que o uso da crase é, antes de tudo, uma
questão de saúde pública. Salvam-se os pulmões graças à (com crase) balsâmica
crase.
Artifícios surgem como forma de evitar essa epidemia tão
grave e aguda quanto a do Ebola. Troca-se a palavra à qual (com crase) a crase
está ligada por uma masculina, surgindo ao, vai crase. Exemplo: Vai à praia.
Vai ao litoral.
Adiante. Se a crase é a contração de a+a, ela poderá
acontecer na frente de palavras femininas. Em Compro a crediário ou Compro a
prazo temos o a como simples e inofensiva preposição, pois o artigo de prazo e
de crediário é o. Pô!
Porém nada pode ser tão simples na vida do falante
distraído da língua mãe de Bilac (cuidado! não disse falante da língua da mãe
distraída do Bilac). Surgem, de inopino, não se sabe de onde, as locuções
adverbiais femininas. Aqui não adiantam artifícios de troca por ao. Exemplos:
Dobrar à direita; Ricardão colocou as calças às pressas; Saiu às cegas catando
o Ricardão; A mulher estava às apalpadelas com o Ricardão; Agarrou a colega à
unha; Estava à toa na vida, quando o Ricardão chegou às escondidas. Entretanto
- Trancou a mulher a cadeado; Andava com ela a tiracolo. Todo o cuidado é pouco
(com a crase e com o Ricardão).
Viu só, matei à paulada, mas matei a pau. Uau!
Onde
ou Aonde?
Sublime pânico. E agora? Estamos escrevendo uma importante
correspondência e nos assoma essa dúvida atroz, aterrorizante. Realmente, a
Língua Portuguesa é a pior do planeta. Nada disso. Ledo engano, caro internauta
indeciso.
É muito simples. Usaremos AONDE quando pudermos substituir
por PARA ONDE. Assim,
Aonde você vai, com essa roupa sumariíssima. Porque
podemos substituir por PARA ONDE você vai...
Mas,
Moro onde não mora ninguém. Porque é impossível substituir
por Moro PARA ONDE não mora ninguém.
Fácil.
Então faça o teste. ONDE ou AONDE eu estava com a cabeça
quando me casei com você?
VÍRGULA
ANTES DO E
Alguém disse, em sabedorias populares, que antes do E não
há vírgula. Quem disse isso? O nome do tal não surge. Alguém, me disseram, sei
lá. Não caia nessa, caro internauta. Vamos à regra, à verdade nua e crua, doa a
quem doer...
Haverá, sim, vírgula antes do E se esse E ligar duas
orações com sujeitos diferentes. Como assim? Vejamos.
Ele pegou suas coisas, e ela não o impediu de sair.
Ele é o sujeito, pratica a ação de pegar. Ela pratica, ou
deixa de praticar a ação de impedir. São dois verbos, duas ações, com sujeitos
diferentes. Aliás, sujeitos que estão em vias de se separar. Logo, haverá
vírgula separando as orações e os meliantes separatistas. Mas
Ele juntou as trouxas e seguiu rua a fora.
Ele é sujeito de juntar e de seguir. Logo, sem vírgula
antes do E.
A partir de agora, cuidado com a vírgula antes do E, e
muito cuidado com a mulher que o acompanha. Ninguém está a salvo. Ufa!
Objetos
Diretos e Indiretos
Como diz o nome, objeto é a função sintática na frase que
recebe a ação expressa pelo verbo. Assim, temos o velho clichê: "O povo
não pode ser objeto da história, mas sim sujeito". Retórica, papo furado.
Há verbos transitivos, isso quer dizer que a idéia precisa transitar por eles para buscar um complemento. Assim, aproveitando o embalo:
O governo privatizou as estatais.
Há verbos transitivos, isso quer dizer que a idéia precisa transitar por eles para buscar um complemento. Assim, aproveitando o embalo:
O governo privatizou as estatais.
Sim, senhor, quem privatiza, privatiza alguma coisa. Ou
seja, o verbo privatizar precisa de complemento, por ser incompleto na sua
origem. Compare:
A oposição não descansa.
A oposição não descansa.
No sentido de tranqüilizar-se, quem descansa, descansa, e
pronto. É verbo completo na sua essência. O povo não descansa enquanto não vir
os corruptos na cadeia.
Os corruptos correm da lei.
O verbo correr não exige complemento, os corruptos podem correr juntos, acompanhados, com os amigos, em torno de Brasília. Todas essas idéias não funcionam como complementos, mas como termos acessórios que dão mais precisão informativa à frase.
Portanto, observemos o verbo votar. Quem vota, vota em alguém. Com esse significado é verbo incompleto, por essência sofre de aleijume, precisa de complemento, sem o qual não vive. Votamos em alguém. A preposição indica um complemento indireto, quer dizer, um objeto indireto.
Contudo, os deputados votaram o projeto do governo em troca de verbas. Nesse caso, é transitivo direto, exigindo objeto direto, que vai direto para o bolso de alguém. Quem?
Nesse momento, é fundamental sabermos quem é o complemento indireto de nosso votar. O nome que virá depois da preposição é decorrente da cidadania.
Nunca um complemento verbal foi tão importante.
Não jogue o seu complemento no lixo.
Os corruptos correm da lei.
O verbo correr não exige complemento, os corruptos podem correr juntos, acompanhados, com os amigos, em torno de Brasília. Todas essas idéias não funcionam como complementos, mas como termos acessórios que dão mais precisão informativa à frase.
Portanto, observemos o verbo votar. Quem vota, vota em alguém. Com esse significado é verbo incompleto, por essência sofre de aleijume, precisa de complemento, sem o qual não vive. Votamos em alguém. A preposição indica um complemento indireto, quer dizer, um objeto indireto.
Contudo, os deputados votaram o projeto do governo em troca de verbas. Nesse caso, é transitivo direto, exigindo objeto direto, que vai direto para o bolso de alguém. Quem?
Nesse momento, é fundamental sabermos quem é o complemento indireto de nosso votar. O nome que virá depois da preposição é decorrente da cidadania.
Nunca um complemento verbal foi tão importante.
Não jogue o seu complemento no lixo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário